Uma espiral de caos, tristeza, dor e destruição. Acho que
podemos resumir assim a jornada de Don Draper nesta sexta temporada de Mad Men.
Antes de comentar sobre a temporada deste ano, abro um
parêntese para falar dos anos anteriores da série. (Mad Men não é uma série
fácil. Ela não te conquista de primeira. Nada é mastigado, explicado, há longas
sequência em que nada acontece – Matthew Weiner, o criador e roteirista da
série segue a receita de sucesso de sua série anterior, The Sopranos – mas ao
final de alguns episódios você se vê completamente fisgado pelos personagens
complexos e maravilhosos e uma reconstituição de época que beira a perfeição. A
década de 60 foi um marco, um divisor de águas para o mundo, a sociedade em geral
e Mad Men retrata os hábitos, os costumes e todas essas mudanças com uma
sutileza e uma genialidade ímpar.).
Neste sexto ano, temos um grande desenvolvimento nos
personagens e, embora todos mereçam destaque, infelizmente, darei ênfase aos
dois personagens chaves desta temporada. A primeira é Peggy. É notável seu
crescimento e amadurecimento. Peggy está na vanguarda do seu tempo. Ela
trabalha e tem sucesso – dentro do possível para a época, é claro, compra seu
próprio apartamento, termina seus relacionamentos quando acha que é necessário
faz com que suas opiniões e vontades sejam ouvidas e não aceita ser manipulada
por homem algum. Gostei particularmente da cena em que ela conversa
amistosamente com Pete (que em tempos remotos a fizera sofrer tanto),
percebemos como os dois se conhecem e hoje consegue relacionar-se bem, apesar
de tantos percalços, o que mostra que o personagem de Peter também está mais
maduro, que já levou muitos revezes da vida e não é mais o menino mimado das
primeiras temporadas. Aliás, ele e Bem foram responsáveis pelas cenas mais cômicas
da série nestes seis anos.
Don Draper alcançou o fundo do poço. Há muito tempo ele já
perdera o ânimo com a profissão. Desde a temporada passada, vemos Don sabotar –
consciente ou inconscientemente – os clientes potenciais da empresa e tem o seu
ápice quando Don espanta a Hershey’s ao contar, finalmente, sobre a sua infância
num prostíbulo (palmas aqui ao desempenho de Jon Hamn na cena. Soberbo!!). Com
esse desabafo, Don vê seu mundo começar a ruir verdadeiramente. Ele é expulso
da firma, convidado a se retirar por tempo indeterminado. Seu casamento com
Megan está acabado. Sua amante o rejeitou. Peggy, sua protegida, está magoada e
não o respeita mais. Até sua filha, Sally, que o flagrou com a vizinha, não tem
por ele mais respeito algum. E em meio a este caos, Don começa a aceitar seu
passado, aceitar quem ele verdadeiramente é. Deixar todas as mentiras
acumuladas ao longo dos anos parta trás. E tudo isso é coroado na linda cena
final, quando Don, junto de seus três filhos, visita a antiga casa em que
cresceu. A cena termina rápido, mas gostaria de acreditar que na continuação,
Don senta nas escadas e conta toda a verdade para as crianças.
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Cena final desta sexta temporada |
Há boatos de que a sétima temporada da série seja a última.
Eu realmente acredito nisso. Tenho muitas teorias sobre o que pode acontecer a
Don. Muitos acreditam que a imagem da abertura da série seja um prenúncio do
fim de Don Draper. Ele jogando-se do prédio da Sterling Cooper and Partners.
Pessoalmente, acho que este final seria bom e coerente, mas eu gostaria de ver
o Don se redimir. Acredito que, apesar de todas as suas grandes falhas de caráter,
Don não é um homem mau. É somente um homem envolvido por mentiras imensas, por
uma carência angustiante e uma total não aceitação de quem ele é de verdade. E
aí entra a importância da Sally para a salvação de Don. Ele começou a contar a
verdade, para seus sócios e seus filhos. Ele começou a aceitar essa parte dele
que há muito estava escondida e o impedindo de ser uma boa pessoa. Se a Sally o
perdoar, o entender e o ajudar nesta retomada da verdade, ele ainda pode ser
salvo.
By Alê